
EXTRAÇÃO

Uma história familiar revela as estruturas da invasão da amazônia pelos brancos.
SINOPSE
“EXTRAÇÃO” conecta a história global às histórias da família Brasil, que, desde o século XIX, habita diversas cidades no interior da Amazônia. A diretora, Priscilla Brasil, bisneta de donos de seringais, neta de um violento agente da ditadura e filha de um construtor de estradas e usinas de mineração, conta, de uma perspectiva extremamente pessoal, a progressão da invasão e destruição do espaço da floresta pelos brancos e por sua própria família durante todo o século XX."
"EXTRAÇÃO” é um documentário investigativo baseado em memórias familiares, arquivos pessoais e históricos, e em umas, arquivos pessoais e históricos, e em uma abordagem etnográfica e crítica do espaço, que busca compreender as transformações sofridas e as relações de poder ainda existentes na região Amazônica. Durante os últimos 150 anos, minha família deslocou-se pelos espaços da floresta, acompanhando o processo de colonização/invasão da região. As falsas promessas de desenvolvimento determinaram a degradação, a violência e inúmeros traumas sofridos pelas populações tradicionais e também pelos que para cá imigraram.
A partir de encontros e da revisão de documentos e materiais de arquivo, proponho fazer uma análise das relações de poder a partir das memórias e da justaposição dos fragmentos da história, reorganizados a partir de constelações de imagens. Mediada pelos arquivos e pelas narrativas da memória dos que permaneceram nos locais por onde minha família passou, o filme pretende organizar o debate sobre a ocupação para o “desenvolvimento” e sobre os destinos deste legado.
Penso que a montagem, como instrumento de pensamento, é capaz de fazer emergir novas possibilidades a partir da desmontagem das certezas e dos discursos estabelecidos. É ela que nos permite pensar através das diferenças nos vazios deixados entre os fragmentos dos arquivos. A montagem permite a simultaneidade dos tempos (neste caso, mais de uma centena de anos) e a revelação das falhas, dos conflitos, da heterogeneidade. E se a montagem do filme serve a tudo isso, ela serve também à descolonização dos olhares e das metodologias, e servirá para narrar as histórias escondidas nos rincões do Brasil. Articular a memória, a narração e a história na busca de apreender a realidade é o que propomos neste filme
Para atingir esses objetivos, no entanto, é necessário entender o encontro comigo mesma e com meus traumas pessoais como parte importante do documentário. Vivo traumas que não são apenas meus, mas que também são dores coletivas e violências criadas pelo processo de invasão e tomada daquele território.
Nas andanças que proponho, pretendo retomar o encontro com os que ali permaneceram como algo importante na narrativa, algo que tem sido progressivamente desconsiderado fortemente nas últimas décadas. A busca pelo silêncio tornou-se cada vez mais forte nos filmes, na tentativa de dar ao espectador a agência para completar ele mesmo os vazios deixados pelo autor. As vozes dos invisibilizados, entretanto, foram ainda mais silenciadas a partir dessas escolhas. Em áreas de conflito e de poucos registros, parece-me que isso precisa mudar. Proponho um filme que volte a ouvir as construções das pessoas não apenas sobre as suas vidas, mas sobre os espaços que elas habitam e os exercícios de poder que sofrem.
Assim, minha narração não se impõe como uma voz de Deus sobre o material, pois não afirma, nem tem certezas e está organizada a partir da incompletude própria do processo. A narração que proponho é extremamente pessoal, apesar de crítica, e lança luz sobre o fundo do quadro, sobre o que a história desconsiderou, sobre o que foi considerado descartável ou desimportante pelo discurso do dominador.
Proponho um documentário investigativo em formato de filme-ensaio, narrado pela própria autora a partir da posição explícita. Ao mesmo tempo, o filme é etnográfico no sentido de buscar compreender as transformações sofridas pelo espaço da floresta e as relações de poder existentes. O ensaio descolonizado enfatiza a construção do discurso a partir de autores e ideias produzidas por amazônidas, retirando-os da invisibilidade e do silenciamento.
