DIRECTOR'S NOTES

by PRISCILLA BRASIL

“Into the Void of the Air” is not exactly a search film, but a film about reunion with a place. I returned, after 30 years, to the small and apparently unimportant airport where my uncle used to fly, in Belém, Brazilian Amazon. In the 1980s he would carry me there every Saturday and I grew up playing around the airstrip. On this trip back, everything seemed frozen in time: novices’ almost incomprehensible desire to fly, the precariousness of the profession and the chauvinism – everything was still there, just like in my childhood.

In 2016, when I started filming, local activity was already reduced to a few daily flights, unlike the frenetic airport I had known. Most of the garimpeiros' and loggers' aircraft had moved to remoter areas within the forest. Small aviation always operates at the borders, serving mineral exploration, cattle or drug trafficking. Without these actors, the airstrip had become an almost phantom island wedged in the middle of crowded neighborhoods with which it had no connection. In December 2021, the government announced its definitive closure, putting an end to my journey.

It took me a long time to understand my strange desire to return there. Deep down, I really wanted to find someone who reminded me of my uncle. But those memories had been erased. All the names written in his logbook, all the pilots who certainly knew him, were dead. There was nothing left to rescue, no one to listen to.

It is my failed voice that narrates this very personal return. After 70 years of operation, the airstrip definitively closed without any tribute or celebration. It is in this way, without much fanfare, that most of the spaces we build end up. And in a silent way that will extinguish us as well.

NOTAS DA DIRETORA

por PRISCILLA BRASIL

“No Vazio do Ar” não é exatamente um filme de busca, mas um filme de reencontro com um lugar. Retornei, depois de 30 anos, ao pequeno e aparentemente desimportante aeroporto no qual meu tio voava, em Belém. Nos anos 80, era pra lá que ele me carregava todos os sábados, eu cresci brincando nos arredores dessa pista. Tudo me pareceu congelado no tempo: o desejo quase incompreensível dos novatos de voar, a precariedade da profissão e o machismo – tudo continuava lá, tal como na minha infância.

Em 2016, quando comecei a filmar, a atividade do lugar já estava reduzida a alguns poucos voos diários, diferente do aeroporto frenético que eu tinha conhecido. A maior parte das aeronaves dos garimpeiros e madeireiros tinham sido deslocadas para áreas mais remotas no interior da floresta. A aviação de pequeno porte opera sempre nas fronteiras, servindo à exploração mineral, gado ou ao tráfico de drogas. Sem esses atores, a pista tinha virado uma ilha quase fantasma encravada no meio de bairros populosos e com os quais não tinha a menor conexão. Em dezembro de 2021, o governo anunciou o fechamento definitivo do espaço, dando fim à minha jornada.

Demorei muito tempo pra entender o meu estranho desejo de voltar àquele lugar. No fundo, eu queria mesmo achar alguém que lembrasse do meu tio. Mas essas memórias tinham sido apagadas. Todos os nomes escritos na sua caderneta de vôo, todos os pilotos que certamente o conheciam, estavam mortos. Não havia mais nada a resgatar, nenhuma lembrança a ouvir.

É minha voz falhada que narra esse retorno tão pessoal. Depois de 70 anos de operação, a pista foi definitivamente fechada sem nenhuma festa, nenhuma homenagem, nenhuma comemoração. Assim, sem muita pompa, acabam a maioria dos espaços que nós construímos. Assim, sem muita pompa, vamos nos extinguir também.